quarta-feira, dezembro 19, 2007

Saudades de meu rincão
Henrique Barandier dos Santos

1
Por vezes, mirando o azul do infinito,
Onde a vista já não mais alcança,
Meu pensamento, na amplidão, aflito,
Busca CISNEIROS em sutil lembrança.

2
Ao destino certo, com volúpia intensa,
A minha vila volvo a contemplar,
Sorvendo os dias de alegria imensa
Da terna infância volto a recordar.

3
Baixa o sol, morre lá no horizonte,
Longe angustiada alma voa....
Revejo minha aldeia num instante,
Revivendo a dor que me magoa.

4
Sinto-me quedo, minha alma pungida
Pela saudade voraz, cruciante.
Sou qual a triste juriti perdida,
De meu tão nobre Cisneiros distante....

5
Se choro, dizem, ao cair da tarde,
As lágrimas quentes aos olhos não vão,
Arde‑me o peito em ansiedade,
Rolam‑me as gotas diretas ao coração

6
Meus suspiros são ecos, são gemidos
Que o âmago ardente exala,
De cruel nostalgia exauridos
Da angustia que em meu ser se cala.

7
CISNEIROS, as doces imagens tuas
Rememoro febril em meu degredo,
Até as sujas poeiras das ruas
Me seduz, tem encanto, tem enredo.

8
Sob o imponente framboyam frondoso
Que a rua principal sombreava,
No estilo escaldante, em pleno gozo,
Em criança, descuidado eu brincava.

9
E as cutieiras? as irmãs unidas,
Bem junto ao largo não existem agora,
Rugosos troncos, viu o passar de vidas,
De homens hoje, crianças de outrora.

10
No Capivara, rio pequenino,
De norte a sul meu Cisneiros a banhar,
Longe vai o áureo tempo de menino
Que em suas águas, feliz ia nadar.

11
Qual imensa esteira de pratas
Qual dorso de serpente gigante.
Marulhante veloz sob as matas
O Rio Pomba, ruidoso e passante.

12
Suas águas, turvas ou brilhantes,
São lágrimas que correm em seu leito,
Pranto vivo dos filhos distantes,
São saudades jorrando em meu peito.

13
Cai a tarde sobre as águas constantes,
Lenta, a noite estende o seu véu,
Vaga-lumes pingentes, ofuscantes,
São estrelas que cintilam no céu.

14
Quando, lá no alto a lua cheia,
Majestosa, surgindo nesta hora,
Me transporto, suspiro, o peito anseia,
Quero rever meu Cisneiros de outrora!...

15
Oh!... meu Cisneiros, meu torrão amigo,
Que da infância à minha mocidade,
Teve em meu peito um terno abrigo,
No presente, um turbilhão de saudade.

16
Que a saudade mata não é verdade,
Discordo dessa tola fantasia,
Se essa fosse a realidade,
Já eu descansava sob a campa fria.

17
Dorme Cisneiros... em tranqüilo sono,
Os raios albentes que o ilumina,
Vem lá do céu, que é de Deus o trono,
É enviado qual bênção divina.

18
A brisa suave que o acaricia
É o doce afago que pela noite vai,
É o beijo terno de amor e poesia,
Bendito o seja, porque o envia ao Pai.

Sumidouro, dezembro de 1952


Agradeço a Lucinha, filha de Henrique Barandier dos Santos que enviou a poesia acima publicada. E a Marcelo Barandier dos Santos que fez o contato com Lucinha.

No site da Prefeitura de Sumidouro(RJ) encontra-se publicada outras poesias de Henrique Barandier dos Santos:

Site da Prefeitura de Sumidouro

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