sexta-feira, junho 02, 2006

O MEP E O MANIFESTO

Setembro de 1986. Tempo quente em Palma no clima e também na política. Seria realizada as primeiras eleições diretas após um longo regime militar.
A Delegacia de Ensino de Muriaé promoveu um congresso estudantil onde foram discutidos os rumos da política e da educação. Participaram todos os municípios da região. Discursos inflamados, protestos, gritos, ufanismo. Teve de tudo neste congresso. Nós os representantes de Palma participamos ativamente. Na volta, na estrada decidimos que criaríamos na cidade um movimento estudantil.
Semanas depois, o MEP (Movimento Estudantil Palmense) começou a funcionar com a participação de vários alunos. Tínhamos reuniões semanais e também criamos o nosso órgão informativo: "O MANIFESTO".
A diretoria da Escola reconheceu o nosso movimento e começamos a lutar para a melhoria de condições da escola, trazendo novas propostas. Na época o maior problema da escola era a sua rede elétrica deficiente. Fomos a luta. Procuramos os vereadores, o prefeito, cabos eleitorais de deputados e recebemos o mesmo que a diretoria tinha recebido: promessas.
Reprodução de uma parte da capa de "O MANIFESTO" de 20/09/1988
Reunimos o nosso grupo e fomos pressionar a Câmara de Vereadores. Dias depois publicamos o nosso boletim com a reportagem sobre o que aconteceu nesta reunião. Foi a grande polêmica na cidade no ano de 1988. Abaixo, transcrevemos a matéria publicada em "O MANIFESTO" de 20 de setembro de 1988:

SÉRGIO DISCURSA NA CÂMARA
Na tentativa de conseguir das autoridades competente uma solução para o problema da rede elétrica da Escola Estadual "Ártur Bernardes", vários professores e alunos participaram da reunião da Câmara Municipal, no dia 02 de setembro.
O presidente da Câmara, Antônio Carlos Simão (Camelo), agradeceu a presença de todos e colocou a palavra livre. Em seguida, falou o professor Sérgio Augusto dos Santos, que pediu o apoio dos senhores vereadores para que fosse resolvido o mais breve possível o problema da rede elétrica, ressaltando que se ocorrer uma sobrecarga e o disjuntor não desarmar, poderá o prédio incendiar-se. Sérgio disse que como é do conhecimento de todos, há muito tempo vem trabalhando em prol da educação, tendo sido professor do Antônio Carlos, presidente da Câmara. Frisou também, que só falta boa vontade das autoridades competentes, pois onde há o interesse tudo pode se concretizar.
O vereador Josias Alves Gouvêia, tomou a palavra e disse que o Tribunal de Contas não aprova despesas com prédios de propriedade do Estado. Sérgio respondeu que sabe disso, pois leciona Contabilidade e é obrigado a conhecer a matéria e além do mais, trabalhou durante 21 anos na Prefeitura como tesoureiro e que "nesse tempo não forneci um subsídio sequer a qualquer vereador da oposição. Fiz um juramento quando me formei e vou cumpri-lo até o fim. Nunca falei lá fora o que se passava dentro da Prefeitura. Somente agora, é que vou contar um fato que ocorreu na gestão do Sr. Luiz Teixeira. Esteve em visita a Palma, o Senador Murilo Badaró, que falou durante duas horas aqui neste Salão da Câmara. Então, o Sr. Luiz queria oferecer um almoço ao senador, mas como não existe dotação orçamentária para este fim, o prefeito autorizou a "compra-fantasma"de 50 sacos de cimento (Cz$ 67.500,00 preço atual). O Sr. Miguel forneceu a "nota fria" e com o dinheiro foram comprados mantimentos para preparar o almoço. Depois, enviei quatro Notas de Empenho para o prefeito despachar. Ele me devolveu três e ficou justamente com a do cimento. Foi um pandemônio naquela época. O Sr. Luiz Teixeira queria por toda maneira saber onde é que tinha ido todo aquele cimento. Como Hinkler, funcionário da prefeitura, estava construindo a sua casa e sendo o Sr. Miguel seu pai, o prefeito passou a acusá-lo do roubo. Muito tempo depois, é que o Hinkler lembrou que os 50 sacos de cimento era o almoço do Murilo Badaró" - risos dos vereadores.
Sérgio prossegui dizendo que se a escola é de intresse da comunidade, "porque o Prefeito não desvia Cz$ 150.000,00 do calçamento e faz a obra. O Tribunal de Contas não vai colocá-lo para fora, pois desviou dinheiro para um bem útil, como é a reforma da rede elétrica". Disse ainda que a "política partidária se faz lá fora, cada um tentando garantir o seu cargo, mas dentro da Câmara deve haver a cooperação, procurando resolver os problemas da comunidade, sem distinção de ser da oposição ou situação".
Antônio Carlos disse que a Câmara por meio de seus vereadores, aprovou por unanimidade a indicação do nobre vereador José Eduardo do Santos, nesse sentido. Lembrou ainda que a Câmara aprova os projetos, mas o Prefeito executa se quiser. Disse também, que indo além dos seus limites como vereador já fez um pedido a um deputado amigo seu, para que a obra de reforma da rede elétrica fosse realizada pelo Governo do Estado, tendo sido informado por correspondência, que o governador Newton Cardoso havia autorizado a Secretária de Educação a estudar o caso e se aprovado, então seria executada a respectiva obra. Informou ainda, que caso o Prefeito não atenda a reivindicação dos vereadores, muito se empenhará junto ao deputado que pretende apoiá-lo na sua candidatura a Prefeito Municipal, tendo apoio prioritário, a reforma da rede elétrica da "tão querida escola que me serviu de base para tudo que tenho em minha vida" - conclui, Antônio Carlos Simão.
JOAQUIM RICARDO MACHADO

O jornal que tinha uma circulação normal de 500 exemplares. Nesta foram impressos 1000. A reportagem causou polêmica, sendo utilizada nos discursos da oposição, visto que estava sendo disputada a eleição municipal sendo candidatos da situação o advogado e professor Geraldo Magela e da oposição Marco Antonio de Freitas.
A oposição estava com grande chance de vencer o pleito. Mas um terrível acidente automobilístico acabou com o sonho de Marco Antônio de ser o prefeito de Palma. Reunidos na casa do João Antonio, num domingo a tarde, decidiu-se que Pepê seria o candidato a prefeito e Antonio Pinto de Cisneiros, o vice. Todos saíram em carreata pelo município com a disposição de vencer as eleições, mesmo com esta primeira derrota. E no dia 15 de novembro, finalmente confirmou-se a vitória da oposição, sendo Pepê eleito prefeito.
A grande virada ocorreu, mas o progresso do município até hoje é um sonho quase impossível. O partido está no poder desde 1988, sendo eleitos em 1992 Luiz Antônio(irmão do Marco Antônio) e em 1996, Vinícius Finamore, o atual prefeito.

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Mapa Palma - 1976