segunda-feira, junho 19, 2006

Ainda briga política pelos jornais

Publicado pela Tribuna Popular Nº 28 de 18/04/1915

Secção Livre

Politica de Palma

Um “Estylete” pelas columnas da “Gazeta de Leopoldina”, de 6 do corrente, perdeu o equilibrio, e sem outro roteiro mais consentaneo com a nórmas de civilidade, embarafustou-se, enraivecido, pela vida intima do Cel. Jeremias Freitas, dando, também de rijo, no cidadão Targino Pereira da Silva, ambos delinquentes confessos, que, renegando o captiveiro, manifestam pela imprensa seu modo de pensar e de agir, relativamente á politica do municipio.
A tal ponto attinge a exigencia dos Joões das Regras, cá da terra, que nem ao menos admitem que uma pessôa qualquer, como fizeram os citados cidadãos, venha dizer pela imprensa o desenrolar dos factos politicos de PALMA!
Foi a propria “Gazeta” há alguns dias passados, que, pretendendo refutar allegações do humilde signatario d’esta, disse que tinhamos em mira, exclusivamente, intrigar seu illustre director com o governo do honrado Dr. Delphim Moreira, que por Palma tinha apenas fervoroso desejo de vel-a entrar em um periodo de vida honesta e laboriosa, de par com o mais rigoroso á Lei e ás autoridades constituidas.
N’este particular, a “Gazeta” disse tudo, nada tendo a accrescentarmos, pois é esse realmente o fim collimado pelo governo de Minas, que não mais pode tolerar o regimen de carabinas, de assaltos até aos comboios da “The Leopoldina Railway”, do cerceamento ou suppressão, emfim de todas as prerogativas de liberdade, regimen esse que constitue em sua essencia o programma do imaginario P.R.M. de Palma (extra-official), bem diverso, por certo d’aquelle que sabiamente vem dirijindo a politica mineira de há muitos annos a esta parte, o verdadeiro e fundo P.R.M.
Embora pouco se nos approveite, porque é chover no molhado, não concordamos com a allegação da “Gazeta” negando ou desconhecendo que ao Cel. Bernardo Magalhães fossem conferidos poderes para dirijir a politica de Palma, quando isso é notoriamente um facto consumado e testemunhado, não só pelo director da “Gazeta”, como por seu colega de representação, Dr. Astolpho Dutra, tendo ambos, assumido solemne compromisso de não intervirem n’este municipio, deixando livre ao governo agir como melhor lhe approuvesse, tambem no sentido de dar um paradeiro ao regimen de arrôcho implantado n’esta terra e pelo qual, da immodestia, não são responsaveis nem uma só das entidades attingidas pela “Gazeta” e pela lamina envenenada de “Estylete” exterminadora da reputação alheia! Nem ao menos a cortezia “Estylete” respeitar soube! Assim trata de Chico Valladares, o reputado advogado residente em Juiz de Fóra, ex-deputado ao Congresso Estadoal e ex-Chefe de Policia da Capital Federal, como se elle fosse um quidam!
Tambem ao Cel. Jeremias Freitas, - o republicano da velha guarda, - como é elle entre nós conhecido, não attingem, tão pouco, as estyladas de “Estylete” da “Gazeta” de 6. A bagagem de serviços do Cel. Jeremias Freitas, não só ao municipio, como tambem ao Estado, talvez pése mais que todo o material bellico em que se ampara o mercador gratuito de sua honra, incluindo todo seu estado-maior (de “Estylete”) . É um facto facilimo de provar, tão fácil quão facil é quebrar-s a ponta de “Estylete”, quando de encontro a um osso!
Ao cel. Jeremias Freitas, poucos excederam em operosidade, quando esteve agitada, há annos, a questão de limites entre os Estado de Minas e Rio. “Estylete” permutando seu instrumento por um lapis ou uma penna, munindo-se de papel e dirigindo-se a Bello Horizonte, ahi, rebuscando os archivos da alta administração do Estado, há-de forçosamente certificar-se quão cruél foi e injusto para com um dos mais velhos e devotados servidores d’este municipio. Faça isso, “Estylete”, muna-se, tambem, de ante-mão, de uma folha corrida do detractado, não sendo demasiado levar em seu poder uma recommendação do Cel. Bernardo Magalhães, afim de melhor poder transpôr os humbraes das repartições do Estado, e não se ver, porventura, na contigencia de ser vigiado pela policia, ser victima de um máu sucesso ou, então, regressar ás moscas. Quanto ao elemento politico, apresente-se em campo o Cel.Jeremias, que esse não he há de faltar. Bastaria só sua numerosa familia, cohesa e sempre unida, para a constituição de um poderoso contigente.
Mas é exactamente esta união, esta cohesão dominante no partido do Cel. Bernardo Magalhães que não é vista com bons olhos por “Estylete”, avesso como se tem revelado á ordem natural das coisas, á civilisação e ao progresso, emfim, do nosso municipio.
O Cel.Jeremias conquistou entre sua familia a posição privilegiada que ora occupa, de ser o mentor d’esta cohorte que é a familia Freitas, de honrosas tradições no municipio e não será uma Estylada das da ordem de “Estylete” mais digno de uma conserva de acido phenico, que faça ruir esse edificio, cimentado com criterio e tenacidade.
Relativamente á outra victima dos máus humores do “Estylete” – o cidadão Targino Pereira da Silva, - d’elle disse as verdades (até que enfim !) tratando com mais proficiencia do que diz respeito á sua vida intima, apenas com a differença de por despeito ou por inveja, salpicar (estylar) de pus os factos da vida adolescente de Targino, que, realmente, cultiva a arte culinaria, é musico, foi ajudante de pedreiro e, ultimamente, exerce as funcções de governante da casa do Dr. Promotor de Justiça da comarca.
Póde, tambem, tirar sua folha corrida (sem culpa, já se sabe, porque nunca esteve mettido em mashorcas ou tranquibérnias, pelas quaes a policia lhe pedisse contas. Targino é um modesto eleitor do municipio, mas de vida limpa, repetimos, e não suspeita: sua posição humilde talvez lhe saiba melhor que a dos que vivem no fausto e na ostentação, ainda com sobras ou fundo de reserva destinados ao exterminio da humanidade.
Não se falando de Jesus Christo, que a todos nós disse bem alto de sua humildade, a historia contemporanea, registra factos dos que, humildes no nascimento ou na juventudade galgaram elevadas posições e as desempenharam com galhardia: Lincoln, foi lenhador; Felix Faure, foi sapateiro, e lá vemos ns Grécia hodierna, um Venizellos, amado de seus patricios e universalmente conhecido que brotou das camadas inferiores.
Essa lista seria interminavel.
Não vale a pena, porém, alongal-a . E o venerando Cel. Jeremias Freitas, bem como Targino Pereira da Silva, naturalmente, subirão de cotação, porque as estyletadas de “Estylete,” por si sós, nada mais representam do que a base em que se estriba o imaginario P.R.M. de Palma, extra-official.
C. Peão
Palma, 9-4-1915

Nenhum comentário:

Mapa Palma - 1976