Ser ou Não Ser
O texto abaixo foi publicado no jornal “Cataguazes” na sua edição Nº 41 de 18 de julho de 1915. É uma alfinetada política que deve ter tido efeito na época. Hoje fica mais como registro histórico.
Ser ou Não Ser
Palma – versus jornal
Mil algumas attestão e algumas assignaturas heterogenas, em cumprimentos e felicitações, affirmão a circulação, nesta Zona da Matta, no tempo recente de dois Domingos apenas da “Cidade de Palma”, órgão assaz litterario (vide o adorno de sua plataforma a de fundo, de estylo grego e fórma troiana) politico (pelo mólde das maximas que transformando o inferno n’um caldeirão, induz as regras das sórte ás sociedades humanas) enigmatico pelo original dos annuncios, tal como: “Brevemente Comboio” ou tragedias na E. de ferro) noticioso (por accumulo das várias e effeito da questão “Campos Pinheiro”, única do nosso fôro) impulsionador (de obras e innovações, á força dos ideaes jacobinos, verbi gratia) e defensor acerrimo da pragmatica ... de Castela, tão subordinada á politica dominante, como fiel ás autoridades constituidas pelo governo(!) B. Magalhães, obras R. Soares, m. II, a 1915?
Caspité! Que sina a minha a de ter crítica as doutrinas vagas, neste mundo de Deus!
Bem sei que sou movido pelos decretos da providencia, a que estou sugeito; todavia tenho medo de que algum valiente me transmute em caranguejo, dando noticias minhas, perpetuando-me dest’arte a memoria em metamorphose!
O que me vale é que não sou superticioso e nem me importa crêr no que dizem e fazem os maus; pois como veem, nunca estou sosinho ... pondo-me a lér qualquer folheto, mal chego a tomar folego e a traduzir a logica consequente da deducções batem-me logo á porta uns conhecidos amphitriões! ... Neste instante, que singularidade(!) é o irrequiéto e literato Targino que me interrompe o doce fio dos meus pensamentos.
“Perdôa-me, Sabiá, (é como elle me trata) adivinhei que te encontrava a lêr uma farça, ou a rabiscar uma crítica ... tomo, pois, a liberdade de submetter á tua apreciação este meu soneto”.
Boa ideia! (depois que lh’o tomei e o li) Vou encaixal-o nesta chronica, que vae muito a proposito:
“Salve! Oh “Cidade de Palma”
Orgão de tramoias sociaes!
Depressa rompeste a calma
Do povo e dos lusos pardaes!
Sôa a crédo politico ...
Da ordem, da paz e progresso,
Nesses manejos do critico ...
Que a chorar impõe successo!
Penso já que ouço o berro
D’outro a morrer brevemente,
Alli ... na estrada de ferro!
São os membros que querem tragar
Os grãos ... que tentão certamente,
Do emprestimo ... a se tomar
Mal o acabava de colar, batia a linda plumagem o meu espirituoso interlocutor!
Parei um pouco, por haver perdido a rethorica que eu vinha impondo á orientação do jornal; tomo o chapeo e saio ... Que alegria! Encontro a alguns passos, o corcundinha que passava monologando:
“Faz coisa o sr. Redador ...
E a rir-se como um louco, apontando-se a epigraphe “Mulheres e Homens pequenos” do II numero, deixa escapar este versinho:
“Que horror, Santo Nome de Jesus!
Fallar das mulheres é o menos ...
“Pois muito mais soffreu Christo na cruz;
Mas que troça faz de nós pequenos !!
“E agóra, seu tachigrapho, batendo-me no hombro, para que não julgue que não é pêra, leia também “aggressoes” e verá que não é trêta (Despedimo-nos).
-Com effeito, eu estava de sórte, tudo borbotava a tempo para encher as minhas tiras!
Ipsofacio:
“Trême a terra; vulcões borbotão chamas.”
(Francisco Manoel do Nascimento.)
(obras, tom. VIII, p. 53) .
Mais adiante Aarão interroga-me:
“Que tentativa criminosa é essa que o jornal cá da terra, commenta, tão simploriamente? Não foi o Cel. Lucidoro Rodrigues Pereira, digno Colector Federal, a victima de Decio Barbosa?
E como é que essa gente - pinta a scena tão fácil e tão parcialmente?
Decididamente estão no mundo da lua, ou então os reporteres são cegos ou bisonhos!
Ninguem se conformará com o laconismo de semelhante periodico.
Ah! Se eu fosse jornalista!? ...
Effetivamente, elle tem razão.
A questão é de odio politico e são tão somente particular; ella prende-se aos destinos politicos do municipio, que uma pleiade do partido, em opposição, tenta arroja de anarchisar a força e fogo de cujos maus precedentes, ainda nos resta a má impressão do assalto feito em tempo a esta Cidade; as mashorcas de Cachoeira Alegre; o assassinato de José Francisco o ardil do recente triumpho da Camara, cujo presidente, o sr. Cel. Manoel Alipio de Andrade, ainda conservão de refem(!) alem de varias outras tentativas criminosas na pessoa do mesmo Cel. Lucidoro, acctivo funccionario publico, como defeito único de não militar na politica ao lado delles!
Encarcerar o pensamento humano,
Diz Guerra Junqueiro:
É ser malvado audaz e desumano.
E o abaixo assignado do impagavel Annibal, depois do primeiro insucesso do vice Flôres, a Belo Horizonte?
Relembra o C. Peão: “Já então andava na baiea ... era demittido o escrivão ... cujos amigos, para o alentarem, banqueteavão-no com cerveja, carne e pão! Depois, nova mercê ... era nomeada a Exma. Renê!
Brevemente, continua o escriptor, “Bodeiada” orgao suggestivo e mentôr do Cabiuna, cá da terra, trará a lume as allegoriaes do já fallado almanak ! ...
Como estás curioso, ouve leitor a introdução: Nós abaixo assignados e collocados na altura de um principio, queremos como chefe do municipio, o nosso esperto Flôres!
Cantão o Annibal e os taes:
É politico intransigente,
Por elle morremos de amores!...
Eu, de certo, e a nossa gente,
Faremos chefão o Nico Flôres! ...
Ao governo, pois apresentemos
O nosso Complot!
E aos “Bernardos” nós mostraremos
A sórte do Dó!
***
E se não vencermos emfim,
Nesta acção final,
Romperemos com o Delphim ...
De quem nos vem o mal!
É isto, pois a que veremos em pasquins(!)
Logo que voltarem os dois cherubins ...
(Da nova missão a Bello Horizonte.)
Côro da ultima hora:
Chegou, chegou, chegou,
Não há meia hora!
Trouxe o que levou ...
Na volta lá fóra!
Então, quêdo ouvindo harmonica,
Ponho termo á minha chronica!
BREVES DIAS
segunda-feira, junho 19, 2006
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