sexta-feira, junho 02, 2006

Firmo de Araújo

Coronel Firmo de Araújo Pereira

O Coronel Firmo de Araújo Pereira nasceu no dia 01 de junho de 1847 na fazenda "Mutuca", município de Barbacena, filho do capitão Antônio de Araújo Barbosa e Luiza Ermelinda de Araújo. No ano de 1854, seus pais adquiriram a Fazenda Fortaleza em Palma para onde mudaram-se. Estudou de 1859 a 1861 em Santo Antônio de Pádua e em 1862 matriculou-se no Colégio Victor Renault, em Barbacena. Quando estudante, fez amizade com o Dr. Bias Fortes, que no futuro seria governador de Minas Gerais.

Iniciou sua carreira política no Estado do Rio de Janeiro, como sub-delegado de polícia em Santo Antônio dos Brotos (hoje Miracema), no ano 1877. Logo foi eleito Juiz de Paz. Neste mesmo ano, o Capivara (hoje Palma) despertou seu interesse. Foi membro da comissão construtora do Cemitério e da Igreja Matriz e do qual fez muitas doações em dinheiro. (Mais à frente vou detalhar estas informações).

Palma era um reduto de republicanos e proclamada a República, liderados por Firmo de Araújo os cidadãos Coronel Jeremias Freitas e o major Bernardo Magalhães lutam perante a Câmara Municipal de Cataguases pela elevação a categoria de vila. Sendo governador de estado, o Dr. Bias Fortes, colega de escola de Firmo, assina o decreto da criação da vila e o nomeia intendente.
Até a sua morte em 1912, Firmo de Araújo administrou o município com bastante firmeza. Toda a infra-estrutura da cidade foi construída sob sua direção: o prédio da prefeitura, cadeira, fórum, escola e a igreja.

Em seu depoimento de 07/07/1915, Jeremias de Araújo Freitas disse que Firmo "era um desses homens pouco vulgares no gênero, dotado de um gênio especial, espírito arguto, penetrante e sagaz; senhor de uma força de vontade invencível. Amigo leal e sincero e político até a medúla dos ossos".

Além que dar cobertura a um bando de ladrões e assassinos, Firmo, seus filhos e capagas cometiam crimes. Manoel Laxe em seu depoimento diz "um honrado amigo, chefe de família em Palma, recebeu uma carta atrevidíssima, intimando-o a entregar ao bando, duas filhas solteiras que tinha ainda sob o seu pátrio poder". Firmozinho, filho mais velho do Coronel abusou sexualmente de muitas moças, sendo brutalmente assassinado em Miracema(RJ). Outro fato, mostrou a face cruel do Coronel Firmo. Benjamin Reis trabalhava como ourives em sua fazenda. Apaixonou-se pela sua filha Arinda e pediu-a em casamento. O Coronel negou e disse-lhe que saísse de sua fazenda. Arinda não podendo esconder o seu relacionamento com Benjamin, contou ao pai toda a verdade. Firmo mandou um recado a Benjamin para que viesse a sua fazenda, pois não se opunha ao casamento. Ao chegar na fazenda foi agarrado por seus capangas que o castraram e enfiaram um ferro em brasa no local de onde arrancaram seus órgãos genitais. Todos estes fatos saíram publicados no jornal "A Gazeta de Notícias" do Rio de Janeiro por volta de 1910.

O Grupo da Morte tomou a cidade de Palma de assalto na madrugada do dia 06 de julho de 1912. Era um sábado e a população acordou com um forte tiroteio no centro. O primeiro alvo do grupo foi o coletor federal Olegário de Araújo Pereira, que conseguiu fugir. Firmo estava descansando na fazenda Fortaleza. Às onze horas da manhã, a cidade foi totalmente tomada por carabineiros e toda a população ficou sabendo que todo aquele aparato tinha como objetivo a deposição do Coronel Firmo. Há muito tempo, Firmo, seus filhos e capangas cometiam delitos. Em sua fazenda, ladrões de animais tinham total cobertura.

Ao saber do ataque, o juiz de Direito, Dr. Joaquim Rodrigues Seixas telegrafou ao Chefe de Polícia do Estado, comunicando que a cidade fora invadida por um bando armado. A chefia do grupo estava hospedada na casa do padre Joaquim Cardoso, no alto da cidade. O Dr. Joaquim foi até a casa do padre e entrou em acordo com José Barbosa de Castro Júnior, também líder do grupo, para que não houvesse violência e que tudo fosse resolvido através do diálogo.
Diante do acordo, o juiz dirigiu-se a fazenda de Firmo, distante seis quilômetros da cidade, e fez um relato que estava acontecendo. O Coronel aceitou os termos do acordo, para por fim o clima de hostilidades. De posse da carta de renúncia, volta a cidade ainda pela manhã. Na parte da tarde é realizada uma reunião na casa do padre. Líder do bando, Manoel Laxe expôs que o motivo de tomada da cidade era em busca de ladrões de animais que infestavam a região e tinham Firmo como protetor. Estavam presentes Zequinha Barbosa, Osório de Castro Barbosa, o padre Joaquim Cardoso e o juiz Dr. Seixas. O delegado chegou depois detido juntamente com três praças. O promotor de Justiça Nicolau da Costa Mattos disse que não poderia emitir sua opinião a não ser que o Juiz o exonerasse do cargo naquele momento. Dr. Seixas, disse que o coronel estava disposto a renunciar e não mais se envolver em política e negócios no município. Laxe reagiu dizendo que tinha que haver punição.

O promotor Nicolau da Costa Mattos, retira-se em companhia de seu filho Albertino, a quem entrega a sua carabina. A noite, recebe a visita do Dr. Seixas, que insiste na sua intervenção, mostrando-lhe a carta e garantindo que a renúncia aconteceria na manhã seguinte. Anibal Fernandes e Lucidoro Rodrigues Pereira partiram rumo a Fazenda Serra levando a notícia para o Coronel que a proposta não foi aceita e que ele e sua família deviam sair do município.
Na manhã de domingo, o Dr. Seixas convoca outra reunião na casa do padre e, solicita a presença do promotor. Anibal Fernandes voltou da fazenda do Coronel com uma carta que "exigia , como precisas preliminares de honra, um campo neutro, onde, antes das conclusões definitivas, se consumasse o acordo". Este campo seria a fazenda Praia a dois quilômetros de Palma.
Neste meio tempo, aparece Jacintho de Barros, dizendo que todos estavam enganados, porque o Coronel viria em companhia de muitos homens armados, pois havia pedido a ele emprestado armas e munições. A notícia provocou pânico, tendo o Dr. Seixas protestado, afirmando que isso não tinha fundamento e que o Coronel estava a caminho da cidade em companhia de Lucidoro e Jeremias. Jacintho foi detido na casa do padre e diante disso, Zequinha Barbosa e o promotor Nicolau da Costa Mattos recusaram integrar a comitiva.

O Dr. Seixas solicitou que o grupo nomeasse uma pessoa de confiança para certificar que os termos da renúncia do Coronel Firmo eram verdadeiras. Foi nomeado Anibal Barbosa e este partiu junto com o juiz. Chegando lá encontrou o Coronel e mais duas testemunhas. De volta a Palma, informou Zequinha Barbosa do que havia observado.

Uma e meia da tarde e nada de aparecer a comitiva para fechar o acordo. Aparece então João Machado e convida o Coronel a vir até a cidade para o encontro. Calmo e silencioso, Firmo apeia de seu cavalo, o mesmo fez o Dr. Seixas. Os dois caminham de braços dados e, perto da chácara dos Mendonça, surge Barroso e pede um particular com o juiz e o puxa bruscamente e neste instante uma descarga de seis tiros estoura a cabeça do Coronel Firmo de Araújo. A 200 metros, encontra-se o padre Joaquim Cardoso e Zequinha Barbosa. Zequinha logo foi informado que a ordem de execução partiu de Manoel Laxe. Trêmulo o juiz teve de ser amparado pelo padre.
Após a execução, Manoel Laxe libertou as pessoas detidas na casa do padre, deixando somente o delegado e três soldados. As ruas ficaram desertas porque o grupo circulava e os filhos do Coronel estavam escondidos. A tarde, começou o transporte dos cadáveres: José Fraga, Padeirinho, do inglês Guilherme e do francês Simoneax, executados pela manhã.
Os membros do Grupo da Morte sendo Manoel Laxe Gouveia de Mendonça, Zequinha Barbosa, padre Joaquim Cardoso e o Capitão Silvestre foram julgados pelo Tribunal do Júri diversas vezes, sendo todos absolvidos.

Em 1954 o prefeito José de Paula Freitas prestou-lhe uma homenagem merecida: seu retrato foi colocado na Câmara Municipal, seu túmulo construído junto ao de seus pais e também foi dado o nome da rua que liga a Cisneiros.

Fontes: Altivo Linhares - Memórias de um líder da Velha Província - Maurício Monteiro - Damadá Artes Gráficas-Miracema-1986 e Livros de Notas do Capivara(Arquivo Público da Prefeitura de Cataguases) e documentos da Igreja Matriz de São Francisco de Assis de Palma(MG).

2 comentários:

luciano araujo disse...

MEU NOME É LUCIANO ARAUJO DE SOUZA, SOU NETO DE TEÓFILO ARAUJO, QUE ERA NETO DO CORONEL E FILHO DO FIRMOZINHO, ME SINTO MUITO EMOCIONADO EM VER QUE A MEMÓRIA DO MEU ANTEPASSADO ESTÁ SENDO RESGUARDADA, FICA AQUI O MEU MUITO OBRIGADO E MEUS PARABÉNS.

Unknown disse...

meu tataravô...

Mapa Palma - 1976