quarta-feira, junho 14, 2006

Um causo de Palma

Recebi de Gilmar Barbosa um causo muito interessante e com sua autorização estou publicando. Peço aos leitores do blog que tiveram causos e histórias interessantes sobre Cisneiros e Palma, não deixem de enviar. Obrigado Gilmar.

Rica infância

No ano em que Neil Armstrong pisou na lua, minha mãe finalmente permitiu que eu fosse sozinho até a “rua” para comprar fósforos, pois afinal eu já era um rapazinho de quase sete anos.
Os quinhentos metros que separavam nossa chácara e a cidade pareciam léguas para mim e para aquela bicicletinha cansada, que já havia servido quatro dos meus cinco irmãos e sabem-se lá, a quantos mais antes deles.
Cheguei ao bar Eldorado, aquele lugar era especial, pois tinha uma espécie de carrossel com uns potes de vidro que meu avô Zé Firmino costumava girar, girar e quando parava ele desenroscava uma tampa de alumínio e retirava uns deliciosos caramelos, que quando mordidos, grudavam os dentes exigindo muito esforço para separá-los. Outra coisa fascinante naquele bar era aquele biombo, que ocultava alguma atividade provavelmente proibida, pois meu pai não deixava sequer que eu me aproximasse dali. Minha imaginação voava ao escutar as gargalhadas e aquele sons de objetos se chocando vindo de traz daquela divisória de madeira.
Subi em um dos banquinhos junto ao balcão e repeti as palavras de meu pai; “Seu Michel, me dá duas caxa de fósfo, por favô”. Ao meu lado, em outro banco, um senhor de meia idade me observava e quando o Sr. Michel foi até a prateleira para pegar os fósforos, ele me perguntou se eu era filho do Nêgo. Respondi que sim com a cabeça e então, ele me disse que era amigo de meu pai, que eu me parecia muito com o Bersoni (Apelido do meu tio Emerson, que era um conhecido jogador de futebol em Palma nesta época.), disse também que era guarda rodoviário e me ofereceu uma Coca Cola. Um pouco hesitante, por não saber exatamente o que ele estava me oferecendo, aceitei. Ele fez um sinal para o Michel, que prontamente colocou um copo sobre o balcão, voltou-se e abriu um armário de madeira com janelinhas de vidro, dobradiças e maçaneta prateadas, de onde saiu uma estranha fumaça. De lá retornou com uma pequena garrafa de vidro que continha um líquido negro e que parecia estar suando, colocou-a sobre o balcão e com uma ferramenta e um movimento brusco retirou a tampinha de metal, “poff”, assustei-me com o barulho da garrafa sendo aberta e mais ainda com aquelas bolhinhas fervendo lá dentro. Numa mistura de curiosidade com excitação peguei a garrafinha; Outro susto, ao contrário do que pensava, aquilo estava gelado, nunca tinha sentido nada naquela temperatura, ainda assim, tomei coragem, servi o copo e dei uma golada; Fiquei estático por alguns segundos e com os olhos arregalados, me virei para o meu novo amigo e falei: “Que trem bão, moço”.

Gilmar Barbosa
gilmarbr@bellsouth.net

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Mapa Palma - 1976