Armazém Regulador de Cisneiros
O terreno para a construção do armazém regulador de café foi vendido ao estado de Minas Gerais por Francisco Emilio de Lima e sua mulher Elmira Conceição Lima Torres e seu sócio Waldemar Campello Torres e sua mulher Maria Conceição Lima Torres com data de 24/03/1928, conforme documento de escritura pública de venda de bens de raiz, lavrada no cartório de Cisneiros.
Em 15 de fevereiro de 1929 com a presença do Dr. Gudesteu Pires, secretário de Finanças o armazém regulador de café de Cisneiros foi inaugurado. O Dr. Gudesteu chegou pelo noturno acompanhado de Edmundo Veiga, ministro do Supremo Tribunal Militar; Odilon de Andrade, alto funcionário da Defesa do Café; Octavio Penna, da firma Penna & Parisot, construtora do armazém; João Telles da Silva Lobo, da empresa Armazéns Gerais; Cunha Bueno, José Ferreira de Oliveira, Pinheiro Chagas, do jornal “Correio da Manhã” e A Seixas de “O Jornal”, além de outros.
O secretário de Finanças foi recebido festivamente na Estação de Trem, estando presentes o Coronel Antonino Barbosa, presidente da Câmara Municipal de Palma; Nicanor Barbosa, presidente do Diretório Político; Dr. João Luciano e Samuel de Mello, juiz de direito e Promotor de Justiça.
O Dr. Samuel de Mello saudou o secretário com eloquente discurso, tendo este agradecido todas as homenagens que lhe foram prestadas.
Depois de um rápido lanche realizou-se a inauguração. Falou primeiro o Dr. Octavio Penna e em seguida o Dr. Gudesteu. Discursou também o Dr. Sandoval Azevedo e o Sr. Silva Lobo, superitendente da Companhia de Armazéns Gerais. Terminado foi oferecido um substancial almoço na casa do Capitão Francisco Julio, onde o secretário foi brindado com champanhe.
Terminado o almoço a comitiva embarcou em carro especial acoplado ao expresso em direção ao Rio de Janeiro.
Abaixo a transição do discurso do Dr. Gudesteu:
Senhores.
Em nome de Sua Excelência o Senhor Presidente Antonio Carlos, tenho a honra de declarar inaugurado o armazém regulador de Cisneiros.
Com a presente inauguração completa-se o aparelhamento da regularização dos embarques e exportação dos cafés da zona do estado de Minas Gerais, servida pela estrada de ferro Leopoldina.
É este mais um passo dado com segurança, na execução do programa da defesa dos preços do café.
Inaugurado este armazém, fica definitivamente suprimido o regime arbitrário das quotas livres, sempre perigoso pelas injustiças involutárias que podia acarretar e pelas dificuldades, quase insuperáveis, de uma distribuição equitativa das porcentagens de exportação.
Agora, a saída do café para os portos de exportação passa a ser feita por processo automático, e rigorosamente justo, tomando-se em consideração as datas de despacho.
A retenção deixa de ser feita nas próprias fazendas, ou nas estações, longe dos mercados, para realizar-se em armazéns convenientemente administrativos e rigorosamente fiscalizados em troca de um certificado com a classificação e individualização do lote, permitindo pronta mobilização, por intermédio do crédito.
É certo que a novidade do sistema exigirá algum esforço de adaptação, com a quebra de velhos hábitos, e reclamará modificações e correções, indicadas pela experiência.
O presidente Antonio Carlos tem dado à solução do problema o melhor de seus esforços e mais acurada atenção.
Todas as vias de escoamento de nossa preciosa mercadoria estão hoje aparelhadas para a regularização: a zona da Leopoldina fica atendida pelos armazéns de Cisneiros e Entre Rios; a zona própria da Central fica servida também pelo de Entre Rios; a Oeste de Minas já está socorrida com o armazém de Barra Mansa, também construído pelo atual governo; a Rede Sul-Mineira tem a exportação regularizada pelo armazém de Cruzeiro, cuja capacidade acaba de ser duplicada; a zona da Mogiana, já parcialmente atendida com o armazém de Campinas, que arrendamos do Instituto de São Paulo, ficará em breve totalmente aparelhada por intermédio do grande armazém de Guaxupé, cuja construção vai adiantada, e que será inaugurado em maio.
Os armazéns de Cruzeiro e Barra Mansa estão entregues, respectivamente, as estradas de ferro Rede Sul-Mineira e Central do Brasil.
Quanto aos de Cisneiros e Entre Rios, não puderam ser entregues as estradas de ferro as zonas por eles servidas, por motivos independentes da vontade do governo, que faz esforços no sentido de submeter-se tais armazéns ao mesmo regime de outros, já citados.
A não se pelo processo de administração pelas próprias estradas de ferro, os armazéns somente podem ser utilizados por meio de uma empresa particular, de inteira idoneidade de moral e financeira e de indiscutivel capacidade técnica: a administração oficial, neste assunto, é inteiramente desacolhável e seria muito mais cara e muito mais cheia de riscos e embaraços.
Foi inspirado por tais motivos de interesse público que o governo contratou a adminsitração destes armazéns com a Companhia de Armazéns Gerais de São Paulo, empresa poderosa e de inatacável idoneidade, tendo a frente de sua direção a figura, por tantos títulos respeitáveis, do Dr. Antonio Carlos Assunpção, ainda há pouco novamente eleito presidente da Associação Comercial de São Paulo, cargo que já exercera, por muito tempo, entre aplausos de toda a classe, a que pertence.
Esta companhia tem contratos semelhantes com o Instituto de São Paulo para manter ali seus armazéns oficializados, tem em movimento um capital superior a 5 mil contos e trabalha com exemplar probidade.
A lavoura mineira pode, portanto, ficar tranquila, quanto a defesa dos seus interesses, que não são esquecidos um só momento pela atençao vigilante do presidente Antonio Carlos.
Sua Excelência o Sr. Presidente do Estado não permite que essa lavoura sofra, com a retençao do café, outros sacrifícios além dos que são estritamente reclamados pelo interesse coletivo da defesa dos preços dessa mercadoria.
E, quando a essa política de defesa do café, não pode nem deve ser discutida de um ponto de vista regional, ou exclusivamente mineiro: é assunto de interesse a todo o país, é problema brasileiro e não interesse local.
Foi por entender assim que o Congresso Nacional, no uso de atribuição constitucional de regular a liberdade de comércio, investiu o senhor Presidente da República dos mesmos poderes para limitar a entrada do produto nos mercados de exportação.
O governo de Minas está colaborando com o governo federal, na execução dessa lei, e a construção do presente armazém é uma das provas dessa colaboração, no sentido de limitar e regularizar o escoamento da mercadoria para o porto do Rio de Janeiro.
Desta forma, o governo do Estado vair dando cuidadosa aplicação ao produto da taxa ou, enriquecendo o patrimônio da Defesa do Café, com os grandes armazéns, que tem constituído, e aproveitando o saldo da arrecadação daquela taxa para o financiamento da safra, proporcionando os juros vantajosos de 9% para os lavradores e 10% para os compradores de café.
Congratulo-me, pois, com o povo desta região do estado pela instalação deste grande armazém que maiores facilidades vai trazer aos lavradores e negociantes de café.
Antes de encerrar esta alocução, quero dizer uma palavra de agradecimento a importante firma construtora Penna, Parisot & Cia., que com tanta rapidez e com tão grande rigor técnico levou a cabo a empreitada desta construção, não só limitando a cuidar do seu negócio profissional, mas pondo na execução da obra um espírito cordial de colaboração com o governo.
Quero, também, fazer em nome do Sua Excelência o Senhor Presidente Antonio Carlos, uma saudação muito especial ao município de Palma, e ao povo desta região, na pessoa de seus dirigentes, que nos confortam com a sua presença a este ato e com eles me congratulo pelo benefício, que representa, para este município, a localização deste armazém em seu território.
Esta saudação extende-se também aos Drs. Sandoval de Azevedo, Pedro Dutra e Lobo Filho, que representam neste ato o próspero município de Cataguases.
Finalmente, já que estamos tomando parte em uma solenidade que tão perto entende com os interesses do povo mineiro, formulemos, do íntimo do coração, um voto caloroso para que todos os esforços e todos os sacrifícios da presente geração frutifiquem em messe abundante de benefícios e prosperidade para a terra amorável de Minas Gerais e, portanto, para a felicidade e para a grandeza do Brasil.
sexta-feira, junho 16, 2006
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