sexta-feira, junho 16, 2006

Entrevista com o Coronel Costa Mattos

Em 07 de fevereiro de 1915 o jornal Tribuna Popular de Cataguases em sua edição Nº 15 Ano I, publicou a seguinte matéria:

Uma entrevista com o Cel. Costa Mattos, chefe político de real influência naquele município

Achando-se nesta cidade o Cel. Costa Mattos, que chefia em Palma o partido que até agora tem contado com a maioria da Câmara Municipal, bem como todas as mesas eleitorais do município, resolvemos interrogá-lo sobre os graves acontecimentos que ali se tem desenrolado, trazendo a população em contínuos sobressaltos.
É sabido que o Cel. Costa Mattos, sentindo-se sem as necessárias garantias, para si e seus amigos, resolveu que o seu partido se abstivesse de disputar a vitória no pleito atual, que reputava certa, mas talvez lavada em sangue, tais as constantes ameaças que lhe eram dirigidas, de um modo ousado e positivo, pelos seus intransigentes adversários.
Da abstenção, resolvida pelo partido do Cel. Costa Mattos, resultou não se ter realizado o pleito em Palma, pois que ao mesmo partido eram filiados quase todos os membros das mesas eleitorais, que, por isso, não puderam constituir.
Estes acontecimentos, bastante vergonhosos, eram esperados e foram denunciados por muitos órgãos da imprensa do país, em cujo número estivemos, esperando-se que, por isso, enérgicas medidas fossem tomadas para que, no município vizinho, não se visse todo o elemento eleitoral de um partido coagido a abster-se de exercer um sagrado direito, garantido pel nossa libérrima Constituição.
Eis como respondeu o Cel. Costa Mattos as nossas perguntas:
- A vinda de V.S. a esta cidade se prende aos acontecimentos políticos em Palma?
- Certamente, por achar-se minha comarca seriamente conflagrada, e eu sem garantias, sendo por isso forçado a procurar esta cidade, onde conto muitos amigos, e onde também me sinto garantido.
- Mas V.S. não contava com as garantias que lhe prometeu o governo?
- Contava, mas na ocasião oportuna elas falharam, sendo grande a minha surpresa quando vi a polícia ao lado dos meus adversários políticos. Isto afirmo pelo fato seguinte: no dia 31 do mês passado recebi uma carta firmada por um amigo meu que me inspira toda confiança, previnindo-me de que o meu assassinato estava determinado para esse mesmo dia, coincidindo a narrativa dessa carta com o aviso que me fora feita por um outro amigo, de que eu seria assassinado, das 9 para as 10 horas da noite, que para a a execução desse bárbado atentado haviam escolhido uma casa fronteira à minha residência e que há mais de um mês conserva-se fechada, ocultando-se aí o sicário que deveria consumar o crime. Em tão aflitiva situação dirigi uma carta ao Alferes José Antunes Vieira Sobrinho, atual delegado especial em Palma, narrando-lhe esses fatos e solicitando sua presença em nossa casa, afim de pedir-lhe as garantias que me julgava com direito fazendo-lhe ver que não ia pessoalmente à delegacia, pelo receio de ser assassinado mesmo na rua. Não tendo o delegado atendido o meu justo pedido, julguei prudente retirar-me da cidade, o que fiz às 08 horas da noite, procurando Cisneiros, tomando o expresso no dia seguinte para esta cidade.
- Quais os candidatos que o partido chefiado por V.S. pretendia sustentar nas urnas?
- Até o dia 22 de janeiro, o meu partido sustentaria somente o dr. Astolpho Dutra e o Dr. Valladares, sendo isso modificado no dia 23, em virtude de uma conferência que tive com o cel. Agenor Canedo, em presença do dr. Pio Pequeno, que por, parte do dr. Antonio Carlos pedia que fosse por meu partido sustentada a chapa do Governo. Como nessa proposta fosse incluido um dos meus candidatos, que é o dr. Astolpho consegui um emissário do dr. Antonio Carlos que fosse incluido o dr. Valladares sem prejuízo dos candidados do Governo, dando-se a todos igualdade de votos, que consegui. Mais outro fato ainda digno de ser relatado, que vem justificar os receios que tive da polícia. No dia 29 propalou-se em Cisneiros que uma horda de capangas iria pertubar as eleições nesse distrito; com a agência do correio esteja anexa a uma das seções eleitorais, a agente, que é minha nora, requisitou do delegado garantias para aquela repartição federal, o que lhe foi negado. Entretanto, no dia seguinte o dr. Arthur Furtado auxiliar do Chefe de Polícia, mandou garantir Decio Barbosa e seus companheiros pelo Alferes Antunes e grande força municiada, afim de asseguar-lhes a passagem de Cisneiros a Itapiruçú.
- Mas julga o Coronel que o dr. Arthur Furtado estava contra o seu partido, que pretendia sustentar a chapa do Governo?
- A princípio não, manifestando-se mais tarde contra. Logo que chegou a Palma tive com ele uma conferência sobre as eleições no município, dizendo-me trazer ordem do Governo para que as eleições corressem livremente, que o Governo não tinha candidatos, podendo-se votar em que quisesse, ao que lhe disse que esta ordem não estava de acordo com um telegrama do dr. A . Lopes, a mim dirigido, pois era proposto do Governo amparar os candidatos apresentados pela comissão executiva do P.R.M. No dia seguinte o “Correio da Manhã” publicou uma notícia dizendo que o Dr. Furtado não estava cumprindo as ordens que o Governo lhe havia dado, etc. O Dr. Furtado julgou que essa notícia fosse dada por mim, irritou-se. À noite foi a minha casa o alfares Antunes convidar-me em nome do mesmo para uma conferência em casa do Dr. Amorim, Juiz de Direito da Comarca. O que se passou nessa conferência, que teve lugar no escritório do Dr. Amorim, foi que há de mais injusto contra minha pessoa, podendo garantir-lhe que fui tratado pelo Dr. Furtado da maneira mais violenta que se possa imaginar, como poderá atestar o Dr. Amorim.Nessa conferência insistia o delegado auxiliar para eu determinasse aso mesários que reunissem as seções da cidade. Não vendo eu garantias as demais seções dos distritos, onde se esperavam grandes e lamentáveis conflitos, relutei e não atendi, pois tinha a previsão de grandes tumultos na cidade, mesmo com a presença dessa alta autoridade. Assim procedente, tive somente em vista evitar a repetição de assassinatos tão comuns na comarca de Palma. Insistindo o mesmo delegado em seu pedido, fiz-lhe a seguinte proposta: darei uma seção, não votando os meus amigos, concorrendo a ela somente os contrários, e votarão eles em 3 candidatos do Governo. Essa combinação pareceu ficar de pé, e não sei porque fracassou no dia seguinte, não havendo por isso eleições também na cidade.

O Cel. Costa Mattos seguia para Santana e interrompemos a entrevista para continuá-la na volta.
Daremos portanto a conclusão no próximo número.

No dia 11 de fevereiro de 1915, o jornal Tribuna Popular publicava a conclusão da entrevista em seu núemero 16.

Damos hoje a conclusão da entrevista que tivemos com o Cel. Costa Mattos.
- Coronel, segundo sua promessa poderemos continuar a entrevista que se interrompeu, devido a sua viagem a Santana, tratando-se ainda dos últimos acontecimentos políticos em Palma?
- Desejava não voltar mais a esse assunto, pelo que vejo, tudo quanto eu disser com relação ao lamentáveis acontecimentos políticos de Palma, agravará cada vez mais a minha situação, hoje insustentável por falta de garantias. O senhor deve saber que o Dr. Arthur Furtado voltou a Palma por determinação do Governo e está procedendo a um inquérito policial afim de apurar a minha responsabilidade, pelo fato de não ter havido eleições naquele município; assim aguardo o resultado dessas investigações para defender-me mais tarde.Entretanto, devo garantir-lhe que o único motivo que deu causa a eue não houvesse eleição na comarca de Palma, foi o terror, que ninguém ignora espalhado em todo o município pelos adversários da minha política. A imprensa profligava de forma veemente o estado anárquico naquela comarca, pedindo ao Governo, com insistências, medidas enérgicas que viessem reprimir o abuso dos carabineiros, do pertubadores da ordem pública e dos repetidos assassinatos que se tem dado naquele infeliz lugar.
- É verdade que o presidente da Câmara de Palma se pode considerar como deposto do cargo?
- Não foi propriamente deposto o Presidente da Câmara, mas vem a dar no mesmo. O Cel. Manoel Alipio, como todos o conhecem, é um homem bom e dócil, um carácter puro e de uma probidade proverbial. Tendo sido assassinado o Coronel José Francisco no mesmo dia em que faleceu seu venerado pai, não pode resistir facilmente, como é natural, tão rude golpe, seu espírito abateu-se. No estado moral em que achava esse meu amigo, foi fácil a conquista de um mal há muito pré-concebido; e pondo-se em prática o terror, as ameaças, cenas macábras, o Cel. Andrade teve que ceder, com a promessa de ser respeitada sua vida! Não renunciou, passou a presidência ao seu substituto legal, - o Sr. Tenente Coronel Antonio de Oliveira Flores, cunhado de José Barbosa Júnior. É preciso que se diga, o Cel.Flores é um perfeito cavalheiro, de princípios austeros e que não se deixa dominar por quem que seja. E o Cel.Costa Mattos terminou dizendo que não se sente bem para dizer atualmente outras verdades sobre a política de Palma.

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Mapa Palma - 1976